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quinta-feira, 5 de setembro de 2013




Não é mistério para ninguém que Jacarepaguá foi uma área de grande produção agrícola há uns 50 ou 60 anos atrás. Aqui por essas bandas se produzia quase tudo um pouco. Se na época da escravidão os grandes proprietários se fartavam com a produção de cana-de-açúcar, a partir de 1888 a região seria ocupada por um sem número de hortas e pomares. Um mar de sítios e chácaras, pequenos lotes de terra movidos pelo trabalho e suor de diversas famílias – a maioria de portugueses. Tínhamos o predomínio de uma agricultura de subsistência. 


Era um modelo onde o que se plantava se voltava principalmente para as necessidades das pessoas. A mão-de-obra era familiar. Poucos eram assalariados. Cuidava-se de alimentar o povo, a gente trabalhadora. Nada lembrava aquele terrível sistema colonial e escravista, de plantation, agroexportador. Uma pena que ele estava restrito a poucos lugares, como Jacarepaguá. Uma pena não ter havido a Reforma Agrária! Certamente teríamos um povo mais bem alimentado, saudável e feliz.


Pior: tal cenário foi destruído em nossa região por um modelo de urbanização predatório, sem nenhuma regulamentação. Destruidor mesmo. E contra isso se voltaram muitos moradores e, principalmente, a esmagadora maioria dos seus pequenos lavradores. E o mais notável de tudo – e essa é uma história ainda muito pouco conhecida: esses trabalhadores vendo a necessidade de constituir uma organização em defesa de seus interesses criaram uma Liga Camponesa. Ela foi uma das primeiras do Brasil, junto com a de Ribeirão Preto e de Iputinga (PE). Para tanto contaram com a inestimável colaboração de comunistas, como o engenheiro e professor Pedro Coutinho Filho. Cearense e membro do PCB, ele foi uma das principais lideranças do “campesinato” da baixada de Jacarepaguá e um dos idealizadores da Liga. Nela os trabalhadores tinham acesso a serviços jurídicos, assistiam a palestras, recebiam orientações técnicas. 




Pedro Coutinho ao centro, junto a uma comissão da Liga. Tribuna Popular, abril de 1946.




E também funcionou como importante base local do PCB na região, servindo como comitê eleitoral para os seus candidatos. A Liga também patrocinava diversos festejos (festa junina, o do Dia das Crianças etc.), churrascos, concursos. Comemorava-se até mesmo o 14 de julho francês (Queda da Bastilha!). Política e diversão caminhavam juntas. Mas sem alienação. A Liga era um importante espaço de conscientização política dos pequenos lavradores. Ali eles passavam a ter a dimensão dos seus direitos, da importância da luta, da pressão constante sobre os poderosos e de como era importante a mobilização tendo por base uma pauta, uma bandeira, uma identidade.  Com a ilegalidade do PCB em 47, as Ligas foram fechadas. Os “camponeses” de Jacarepaguá teriam que reinventar outras formas de organização e lutas na década de 50, mas sem perder a alegria. Jamais.




À direita da foto, o antigo endereço da Liga Camponesa de Jacarepaguá. Foto do autor (2012).



Leonardo Soares dos Santos é pesquisador do IHBAJA e professor da UFF.


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