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domingo, 3 de junho de 2018



Leonardo Soares dos Santos
Pesquisador do IHBAJA e professor de História


Além dos casos de corrupção e má-gestão nas repartições públicas, o regime militar procurava monitorar nelas o que seus agentes chamavam de “focos subversivos”. Nada escapava desse tipo de crivo: todo funcionário público era um “subversivo” em potencial. E a Colônia Juliano Moreira não fugia a essa regra.

Mesmo porque os militares identificaram desde a década de 60 a existência junto ao Partido Comunista Brasileiro a existência de um “setor médico” vermelho. Tal setor reuniria exatamente militantes (médicos, enfermeiros, nutricionistas, funcionários administrativos) com atuação na área da saúde, principalmente do setor público. Eles estariam espalhados pelos diversos departamentos e repartições que compunham o sistema público de Saúde.

O Documento de Informação nº 39 (22/05/73) do SNI exemplifica bem a grande preocupação dos agentes da Ditadura. Nesse documento intitulado “Comunistas do Ministério da Saúde atualmente na Divisão Nacional de Saúde Mental – DINSAM”, o autor do relatório lista em poucas páginas os nomes e a trajetória dos principais nomes de “agitadores subversivos” atuantes nesse setor. Ele vasculhava a presença de comunistas nos vários órgãos subordinados à DINSAM como o Hospital Pinel, Centro Psiquiátrico Pedro II e no Manicômio Judiciário Heitor Carrilho e a Colônia Juliano Moreira.

Nesta última o autor do relatório apontava um a um os principais comunistas. O primeiro citado era Célio Assis do Carmo, acusado pelo autor de ter ligações com Washington Loyello, este considerado um “psiquiatra comunista, inteligentíssimo, doutrinador de algumas gerações [...], comunista dos mais importantes no Setor dos Médicos do Partido na Guanabara”.

O segundo nome era o de Raphael Quintanilha Júnior, médico da Colônia, “comprometido com políticos esquerdistas do governo passado (leia-se: governo de João Goulart)”, figurava nos arquivos do SNI como “membro do Conselho Deliberativo da Diretoria anterior da Associação Medica do Estado da Guanabara”, era integrante da “chapa comunista” desta entidade.

O terceiro citado era Antonio Henrique Menezes, advogado, “encarregado de assuntos jurídicos” da Colônia. Pesava contra Antonio as piores “acusações”: teria sido diretor de um jornal sindical, onde em artigo publicado na edição de fevereiro de 1964, “manifestou claramente, as suas ideias de desrespeito às autoridades do País, inclusive às militares, concluindo assim o seu artigo ‘O BRIZOLA ESTÁ CERTO’”. Em 1967 respondeu a um Inquérito Policial Militar por ter instigado “a paralização do Serviço Público, convidando os funcionários para a realização de greves” e por ter feito “publicamente propaganda de ódio de classes, procurando indispor os funcionários civis contra os militares”.

Outro “delito” teria sido a participação em correntes e grupos políticos junto ao movimento estudantil, como quando integrou a aliança entre a União Renovadora (UR) e a Aliança Democrática Universitária (ADU) tendo em vista as eleições para o Diretório Acadêmico Ruy Barbosa na Faculdade de Direito Cândido Mendes. Lembra o agente que a UR foi a ala do PCB “dentro da Faculdade”.

Mas a atitude que mais chamou a atenção do autor do relatório fora a tentativa de Antonio de requerer uma certidão negativa de antecedentes políticos-sociais “para fins de prova ao Ministério da Saúde”. O agente do SNI via nessa atitude mais um ardil do comunista: “muito astucioso, tendo concluído que a Revolução de 64 não permitiu a realização das suas ambições políticas, de parceria com Brizolas e demais comuno-corruptos, pretende agora, anular as suas ações condenáveis, antes da Revolução, e ainda por algum tempo depois da Revolução de 1964, até quando a ‘Comunidade de Informações’ conseguiu tirar a sua ‘fotografia colorida’”.


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terça-feira, 8 de maio de 2018




"Pesquisador do IHBAJA e professor da UFF e UFRJ, Leonardo Soares, lança o livro "Um Sertão entre muitas certezas: a luta pela terra na zona rural da cidade do Rio de Janeiro (1945-1964)".
O livro é fruto de sua dissertação de mestrado, defendida na UFF. O tema deste trabalho é o movimento de luta pela terra por pequenos lavradores do Sertão Carioca durante os anos de 1945 a 1964.
Sertão Carioca era o antigo nome da atual Zona Oeste, num tempo em que ela era basicamente rural."


LINK DA MATÉRIA:https://jornalzo.com.br/noticias/sua-cidade/1517-pesquisador-leonardo-soares-lanca-livro-sobre-a-zona-oeste-rural
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terça-feira, 1 de maio de 2018

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domingo, 29 de abril de 2018


UM SERTÃO ENTRE MUITAS SERTEZAS



Livro do historiador Leonardo Santos, do   IHBAJA, também pode ser adquirido no formato e-book.

Veja no link: https://agbook.com.br/book/248814--Um_Sertao_entre_muitas_certezas




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terça-feira, 24 de abril de 2018


Livro sobre o Sertão Carioca







Pesquisador do IHBAJA Leonardo Soares lança o livro "Um Sertão entre muitas certezas: a luta pela terra na zona rural da cidade do Rio de Janeiro (1945-1964)".

O tema deste trabalho é o movimento de luta pela terra por pequenos lavradores do Sertão Carioca durante os anos de 1945 a 1964. Observaremos, entre outras coisas, como esses agentes fizeram com que suas reivindicações, denúncias e iniciativas de protesto chegassem à imprensa e ao campo político carioca daquela época.

O livro pode ser adquirido no site da AGBOOK:  https://agbook.com.br/book/248814--Um_Sertao_entre_muitas_certezas
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sábado, 14 de abril de 2018





Leonardo Soares, professor de História e Pesquisador do IHBAJA



SNI era a abreviação do Serviço Nacional de Informação, órgão criado durante o Regime Militar que se abateu sobre o Brasil durante o período 1964-1985. Ele era responsável pelo levantamento de informações sobre pessoas, grupos, empresas, entidades de classe, movimentos sociais, principalmente aquelas vistas como inimigas em potencial ou em ato do regime então vigente.
Por muito tempo o SNI foi associado quase que exclusivamente ao monitoramento de militantes da luta armada. O que não deixa de corresponder a um aspecto decisivo e preponderante desse processo. Mas o governo militar também procurou investigar outros agentes, em especial os pertencentes ao serviço público em conluio com agentes privados. E nesse caso o interesse recaia não apenas pelos aspectos políticos da militância do servidor, mas também por suposto envolvimento em corrupção. O relatório elaborado por agentes do SNI sobre a situação da Colônia Juliano Moreira em meados da década de 70 é bastante ilustrativo.
Por meio do ofício nº 419/S1, o agente do SNI Edmundo Adolpho Gurgel prestava contas da “Operação Cuca” ao diretor do órgão. A “Operação Cuca” fazia uma referência quase infantil sobre o objeto de sua atuação: o hospital psiquiátrico localizado em Jacarepaguá, a Colônia Juliano Moreira. No relatório 01/75 datado de 18 de Fevereiro de 1975 o agente apontava as principais “irregularidades” ali existentes.
Após um sucinto histórico da Colônia, na época contando com 1.300 funcionários e 5.200 internos, o relatório listava tais irregularidades. Já de início o autor atribuía o “caos na administração daquela entidade” ao fato de ter tido sete dirigentes desde 1973. Para facilitar a explicação, ele organizou o texto em tópicos. No item “Alimentação”, o agente informa que é comum “faltar comida para os internos”. Em dezembro de 1974, “os doentes deixaram de tomar café, durante mais de uma semana, por falta de açúcar.” Mas acrescentava que a Comissão de Habilitação e Licitação da Divisão de Saúde Mental – órgão ao qual a Colônia estava subordinada – cogitava de “entregar” o preparo de refeições ao Grupo Ricardo Amaral, famoso empresário das “noites cariocas”.
No quesito “Vestuário” lemos que “é frequente a troca de roupas individuais e de roupa de cama por bebida alcóolica, maconha, dinheiro e outros materiais, com os marginais que infestam a área.” Quanto aos “Medicamentos” fica-se sabendo que as duas principais “drogas” utilizadas (Luminal e Gardenal) são mal controladas e ocorre “ainda, com muita frequência, faltar remédio para o chamado ‘tratamento de manutenção’”.  Sobre as “Habitações”, o autor lembra que além das casas construídas para funcionários, um grande numero de novas foram construídas irregularmente.
Sobre as “Instalações e Prédios”, o agente informa que alguns deles “estão em completo abandono, sendo utilizados como moradia”. Os saques são uma constante, assim como as portas arrombadas: “Há casos em que os marginais e assaltantes penetram nas despensas e somente misturam os gêneros, a título de brincadeira.” Até o pessoal ocupado da segurança sofria com as péssimas condições físicas do lugar: “os mesmos permanecem, até meia-noite, sentados do lado de fora da portaria. Após este horário, abandonam o posto, indo para suas casas, que estão no interior da CJM. São quase diários assaltos e depredações dentro do nosocômio.”
No que toca aos serviços públicos como transporte  e água, o relatório aponta que uma linha de ônibus faz “uma linha regular”, que tem acesso livre ao interior da Colônia, “dia e noite”, sem qualquer fiscalização.  Sobre a água, argumenta que é muito a comum a falta dela na CJM, “ficando os doentes em péssimas condições de asseio e conforto”. O agente também alerta no item “Maconha e bebidas alcóolicas” para o grande fornecimento desses produtos no lugar: “os marginais invadem o lugar e fornecem maconha aos internos, existindo até ponto, hora e senha para a sua distribuição”. O agente acrescenta ainda o problema da “Permanência desnecessária de doente”. Segundo o resultado de uma pesquisa, dos 4.623 internos à época, 1.299 já estariam em condições de “alta imediata”.
Adolpho Gurgel finaliza o relatório argumentando que a causa primordial de todas essas mazelas se relacionava ao domínio do grupo político que dominava a Divisão de Saúde Mental e por tabela a CJM, e que tinha na figura de Oswaldo Coura o seu principal artífice, a quem estava subordinado o então diretor da CJM Fedra Petrucci.

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